Em conversa com amigos fui questionada acerca de se a Psicanálise pode contribuir com as empresas, principalmente considerando que o processo analítico, conforme muitos acreditam, é individual, muito demorado e financeiramente dispendioso. De imediato afirmei: sim, a psicanálise pode contribuir.
Ao cuidar da saúde mental do colaborador, diante das adversidades de sua vida, são muitas as contribuições que a Psicanálise pode oferecer, principalmente em época de retomada econômica pós pandemia. Melhoria na qualidade de vida no trabalho, alinhamento da cultura organizacional, maior engajamento e motivação de colaboradores, são alguns dos aspectos que impactam diretamente na produtividade das empresas.
Cada vez mais, sintomas psíquicos tem se tornado presentes na vida das pessoas, como forma inconsciente de reagir às dificuldades na vida: oscilações de humor, insônia, ansiedade, medos, dificuldade em lidar com conflitos, elaboração de perdas e luto, são alguns exemplos. Não podemos esquecer que empresas são formadas por pessoas, a carga emocional pessoal, associada ao medo de não atender às demandas da empresa e perder o emprego, o ritmo de trabalho acelerado e a exigência por resultados, exercem pressão sobre colaboradores, aumentando o estresse, o sofrimento e o desprazer.
Quanto maior o sofrimento psíquico gerado, menor a produtividade. Instala-se aí um círculo vicioso: sofrimento psíquico, baixa produtividade, pressão, desprazer, mais sofrimento…
Freud nos mostrou que o indivíduo busca a satisfação de seus desejos e a obtenção de prazer e/ou diminuição do desprazer. Para aplacar suas necessidades, transforma essa busca em algo ceitável socialmente, sublimando assim sua energia em trabalho. Salário e benefícios atrativos, flexibilidade no trabalho, bom convívio com colegas e superiores são fatores que podem contribuir com a satisfação do indivíduo, entretanto, não garantem seu bom desempenho, tampouco a produtividade da empresa.
Christophe Dejours, psiquiatra e psicanalista, a 35 anos atrás iniciava seus estudos sobre a Psicodinâmica do Trabalho e já apontava o sofrimento psíquico advindo do ambiente e organização do trabalho e as estratégias utilizadas pelos trabalhadores para a superação e transformação do trabalho em fonte de prazer. Com a evolução de seus estudos, propôs a criação de espaços de discussão, concedendo a oportunidade para que colaboradores pudessem expressar seus sentimentos e percepções do contexto organizacional gerador de sofrimento.
Seja por meio da psicoterapia psicanalítica na clínica, seja por meio de consultoria de base psicanalítica nas empresas, a escuta psicanalítica permite contribuir com a investigação, compreensão e ressignificação de aspectos geradores de sofrimento para o indivíduo.
Na clínica psicanalítica o foco é a pessoa, sua história de vida, seus fantasmas e fantasias, traumas e desejos. É por meio da análise – escuta, interpretação e vínculo com o analista, que se torna possível descobrir processos e significados inconscientes e transforma-los, conferindo maior autonomia ao indivíduo. Um indivíduo autônomo é conhecedor de suas limitações e necessidades, é mais criativo e pode melhor contribuir com a empresa, com as pessoas e com a sociedade.
Para as empresas, ter em seu quadro colaboradores autônomos significa poder contar com a criatividade, maturidade, motivação e engajamento das pessoas, na criação e renovação constantes da empresa, aspectos estes importantes na retomada econômica.
Vale a pena investir!